Kaisen Dojo Entrevista Sérgio Lopes
Sérgio
Lopes de Souza Junior, mais conhecido como Serginho, 51 anos, casado, 1 filho de 5 anos começando os treinos. Formado em ciências da
computação e mestrado em engenharia de sistemas. Apaixonado pelo
Karatê.
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Como foi e quando começou a treinar?
Procurei
a Academia Shotokan e comecei a Praticar Karatê em 1983. Comecei a
Treinar com o Sensei Paulo Goes e pouco depois passei a treinar com o
também Sensei Inoki., Foi aí que eu te conheci. Treinei na
Universidade também com o Sensei Landeira, aluno do Sensei Inoki.
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Você praticou outras artes marciais, poderia dizer quais e com quem treinou?
Meu
interesse começou em 1970 com o Judô. Pedi a minha mãe para me
matricular na academia Nissei. Pratiquei até 1983 com os senseis
Haroldo
Cunha e Emmanuel Mattar (Maranhão). Ninguém
na família se
interessava por artes
marciais. Inventei
uma história em
casa que eu
precisava me defender (gargalhadas).
Em
95, paralelamente ao Karatê, comecei o
Aikidô com o sensei Pedro Paulo.
Treinei também com os senseis Kusomaru e Moriteru Ueshiba,
respectivamente filho e neto do fundador. Com eles conhecí o Iaidô
(espada) e o Jodô (bastão) com o sensei Tsuneo Nishioka. Por
motivos horário larguei o Akido/ Iaidô /Jodô.
Sensei José Carlos : Deve ter sido fantástico poder treinar com o filho do Sensei Morihei Ueshiba.
Sergio
Lopes : Foi sim, tanto o filho como o neto do sensei são verdadeiros
samurais. Participei de Gashukus e vi como são dedicados.
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Porque escolheu o Karatê ?Em 1970 no Judô, praticávamos muito defesa pessoal (goshin Jutsu) com atemis, assim me interessei pelo Karatê . Em 1973, levado pelo meu pai assisti o Pan-americano de Karatê. Na Equipe tínhamos o sensei Ugo Arrigoni, Paulo Goes e o técnico o sensei Inoki. Foi paixão imediata. Naquele tempo criança não fazia Karatê, esperei até 83. Acredito na eficiência do Karatê como luta e instrumento pedagógico para desenvolvimento de corpo / mente / espírito.
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Qual o professor ou lutador que você se inspirou ?
Não
dá para citar um apenas um. Vou mencionar os que eu ví e treinei
pessoalmente:
Sensei
Hidetaka Nishiyama, estudioso e grande cientista da arte, uma
enciclopédia;
Sensei
Tetsuhiko Asai que eu reputo como o maior gênio do Karatê até
hoje, era inacreditável o que ele fazia
;
Sensei
Inoki, habilidade inigualável como lutador, um dos melhores do mundo
com certeza. Era mais que professor, grande amigo e conselheiro. Eu
tinha uma relação de segundo pai com ele.
Sensei
Paulo Goes, amigo, filósofo e conselheiro, sabia como ninguém
preparar um lutador para a batalha. Meu grande incentivador. Fui
convidado por ele para dar aulas na academia Shotokan nos horários
infantis.
Sensei
Yoshiharu Osaka, o livro texto do Karatê Shotokan. Movimentos
impecáveis, Kihon, Kata e Kumitê (grande lutador);
E
o meu sempai, Sensei José Carlos, grande amigo e conselheiro, me
ensinou muito sobre o Karatê e sobre a vida. Sempre tinha tempo para
corrigir meus movimentos ensinar os katas e me aconselhar sobre o que
eu deveria melhorar. Talvez você não saiba o quanto influenciou na
minha vida pessoal. Aproveito aqui para te agradecer de coração
tudo o que fez e faz por mim.
Sensei
José Carlos : Sérgio eu fico encabulado com você me colocando
nesta lista de karatekas tão espetaculares, não sei se mereço todo
este elogio.
Sergio
Lopes : é mais que merecido, tanto é que o Sensei Inoki lhe graduou
você com o 7 Dan, fiquei muito contente. Reconhecimento pelo
fabuloso conhecimento sobre a arte. Você ainda treina com afinco
fazendo a aula toda, como o sensei Inoki fazia. Oss.
Sensei
José Carlos : Oss, agradeço suas palavras, quero a cada dia poder
melhorar em todos os aspectos. Como educador tenho o dever de zelar
pelos amigos e alunos.
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Eu sei que você é Budista, me fale um pouco sobre a sua relação com o Budismo e o que tem em comum com o Karatê ?
Deve
ser pela minha careca (gargalhada). Falando sério , com 13 anos eu
peguei um livro na biblioteca da escola sobre artes marciais, tinha
um capítulo inteiro sobre Budismo. É
difícil dizer, para mim o
budismo é religião,
filosofia, psicologia, seria
quase uma fisiologia, trata-se de como vemos o mundo. O Zen é
caminho do centro, a
busca de
nossa essência, o verdadeiro eu. Me
converti ao Budismo e pratico diariamente.
Sobre
a contribuição e semelhança com o Karatê, como
dizia nosso saudoso Sensei Inoki, Karatê é Zen movimentado.
Dô
, dentre tantos significados, tem o sentido de “Caminho” caminho
de aperfeiçoamento espiritual, um caminho de desenvolvimento
interior, um caminho de unificação com o Absoluto. Os valores
éticos, hierarquia, disciplina, respeito
Para
ilustrar, conto uma historinha:
Um
monge chamado Ezai estudou o na China o Budismo Chang. Quando
retornou ao Japão trazendo os ensinamentos que havia aprendido, foi
expulso da seita Budista Tendai. Ele seguiu até Kamakura de onde a
nova classe militar de regentes controlava o Japão. A classe dos
Samurais encontrou simpatia por suas ideias. O trabalho árduo foi
adaptado à prática de artes marciais, o que atraiu ainda mais a
classe de Samurais a praticarem Zen. Pode-se dizer que o Zen define a
identidade do Samurai. Foi assim que o Budismo Zen ficou conhecida
como a religião dos samurais.
Sensei
José Carlos : Oss,
muito interessante, Sergio.
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Qual a sua carga de treino?
Antigamente,
naqueles nossos tempos, não é Sensei José Carlos? 6 horas de
treino, entre Karatê e preparo físico, de segunda a sábado e
domingo uma recreação com Karatê é claro (gargalhada).
Me
recordo bem o quanto o sensei Inoki e você treinavam. Uma hora só
de Katas. Lembra que vocês dois batiam 1000 socos com cada braço no
makiwara? Depois vinham as aulas, nos faziamos 3 horas direto sem
parar. Treinos muito duros mesmo.
Sensei
José Carlos : Oss, é claro, o sensei Inoki treinou muito mesmo,
nos tínhamos acompanhar. (gargalhada)
Hoje
eu acordo bem cedinho faço um preparo físico de uma hora., e depois
do trabalho treino cerca uma hora e meia todos os dias.
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O que você acha das competições de artes marciais ?
Acho
interessante, tem seu espaço e tempo,. não podemos basear a nossa
prática somente objetivando competição. Eu sempre foquei mais no
Budô e autoaperfeiçoamento. A competição maior é comigo mesmo,
superar minhas limitações.
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No meu Gashuku você apresentou um trabalho desenvolvido com respiração focado para saúde e artes marciais, me fala um pouco sobre isso?
Agradeço
o convite do Gashuku, foram treinos sensacionais com grande enfoque
científico, acrescentou muito mesmo. Bem, este trabalho foi um
acúmulo de conhecimentos da meditação e respiração Zen e
Prana-Yoga que eu estudo.
Sabendo
usar a mente e respiração, podemos fazer com que o corpo responda
as necessidades. Para ajudar no Karatê, na
contração e descontração muscular, encolher e expandir o corpo e
Zanshin. Além do Karatê temos o alívio de stress, dores,
ansiedade, sono e muitas outras coisas mais.
Sensei
José Carlos : Achei a palestra sensacional e o grupo ficou muito
interessado na abordagem e exemplificação apresentada.
Sergio
Lopes: Agora sou eu que fico encabulado. Gosto de passar o
conhecimento que eu adquiri. Sempre lembro do exemplo que o sensei
Inoki como professor. Você também segue este caminho.
Sensei José Carlos : Oss
Sensei José Carlos : Oss
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Qual seu maior sonho como Karateka ?
Quero
continuar praticando até morrer (gargalhada).
Então,
gostaria de ver o Karatê no lugar onde ele merece, como era nas
décadas de 70 e 80. O número de bons lutadores era grande. A
academia Shotokan onde treinamos, foi um dos maires celeiros do
Karatê Brasileiro e até mundial. Gostaria de ver estes tempos de
volta.
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O que você acha necessário para o Karatê voltar ao destaque dos anos 70 e 80?
Acho
que mais divulgação. Perdemos espaço na mídia. O público leigo
não entende as regras de competição. Antigamente fazíamos muitas
demonstrações.
Karatê
é arte marcial sensacional ! Muito eficiente para lutar com um ou
mais adversários ao mesmo tempo. Muitas pessoas começavam a
praticar pelo fato de ter visto uma apresentação.
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Qual foi a maior lição que o Karatê te proporcionou?
Puxa,
foram tantas. A superação, perseverança, amizade e companheirismo
de bons amigos como você, Sidney Dobin, Felipe Martins, Alexandre
Ferrari e outros. Isso fica para a vida toda, dentro e fora do dojô.
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O que você espera para o futuro do Karatê?
Acredito
que algumas iniciativas como a sua e outros professores trabalhando o
Karatê em escolas nas diversas faixas etárias. São ânimo novo
para a arte.
Gostaria
de ver mais organização nos órgãos competentes para um verdadeiro
sentimento maior em prol do Karatê, despojado de egos e sentimentos
individualistas.
Sensei
José Carlos : Sergio, meu
amigo e kohai, te agradeço muito pela
entrevista. Foi muito bom você colocar
as suas
ideias aqui.
Sergio
Lopes: Eu é que agradeço. Oss Sensei !
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