Sergio Lopes entrevista José Renato Sampaio 4º Dan Karate Tradicional Shotokan.

(S.L)José Renato agradeço a entrevista,  gostamos e admiramos  muito você  como pessoa e karateka.

(S.L)1. Primeiramente eu queria saber, quando, onde e com quem você começou Karatê ?


(J.R.)Comecei Brumado na Bahia 1988, onde morei quando criança.
Meu primeiro professor foi Paulo Garcez, aluno de Dalmar Caribé.

O Sensei Paulo foi o responsável pelo crescimento do Karatê em algumas cidades do sudoeste baiano.
Alguns anos atrás ele se mudou para Londres, mas mesmo distante ainda mantemos laços estreitos, Sensei Paulo me incentiva e estimula bastante.

Um ano antes de eu começar a dar aulas novamente, em 2014 fiz uma visita a ele em Londres , onde tive tempo de conversar e trocar muitas idéias com ele.

Em junho desse ano de 2017 ele esteve aqui no Brasil e o levei pra conhecer meus alunos.


(S.L)2. O que o levou a praticar Karate-do e o estilo Shotokan ? 
(J.R.)Quando pequeno, meus primos e amigos treinavam Judô. , então, um dia, falei para meu pai que queria treinar. Na ocasião tinha um professor numa cidade vizinha dando aula de Karatê e meu pai perguntou se eu gostaria de treinar Judô ou Karatê, não sei o porquê respondi Karatê.

(S.L)3. O que é o Karate-do para você? O que você busca nesta arte marcial? 
(J.R.)É difícil dizer o que é Karatê-Dô, isso porque primeiro treinei bastante e somente depois de muitos anos treinando tentei construir uma definição.

Posso dizer que o Karatê influenciou fortemente a formação dos meus princípios e para mim é um modo de vida, onde buscamos aprimoramento e somos autoavaliados constantemente.

Da mesma forma como buscamos foco total durante o kumite, trazemos isso para nossa vida cotidiana.

O Sensei Yasutaka Tanaka falou uma vez, eu estava presente: "Apanhou, tá errado! Mas, não siginifica que o outro está certo." Da mesma forma, na vida cotidiana, não atribuímos a responsabilidade de nossos fracassos ao ambiente externo.

Então, no Karate, busco o autoconhecimento, me aprimorar como pessoa, cultivar sentimentos nobres e eliminar os sentimentos ruins.

(S.L)4. Você já treinou outras artes marciais?

(J.R.)Treinei apenas alguns meses de Judô. Gostaria de treinar Judô e Aikidô, mas em função da vida profissional e familiar, sempre foi difícil. Foquei somente no Karatê.


(S.L)5. E quanto a campeonatos, quais você participou ? Como você vê o movimento Karatê esportivo?

(J.R.)Na adolescência iniciei com os regionais e depois comecei a disputar campeonato Baiano e Norte-Nordeste.

Quando estava começando a ter melhores resultados, interrompi a participação em competições devido à necessidade de dar atenção aos estudos e em seguida à vida profissional.

Depois de alguns anos, com a vida profissional já encaminhada, voltei a competir.

Acho que participei de todos os Campeonatos Brasileiros de Karate-Do Tradicional entre 2008 e 2014.

Fui campeão brasileiro duas vezes. Fiquei entre os três primeiros em alguma das modalidades de Kumite, Fukugo e principalmente Kata.

Fui convocado para Seleção Brasileira de Karate-Do Tradicional e também para Seleção Brasileira da JKA. Participei também de uns dois Sul-Sudeste, de um Sulamericano, acho que dois Panamericanos e um campeonato Mundial.

Acho interessante aprendizado que as competições nos proporcionam. Infelizmente não pude dar foco aos campeonatos, em função da vida profissional. 

Penso que o Karatê como esporte cabe dentro da arte marcial, mas o Karatê como arte marcial não cabe dentro do esporte. Esse é um ponto importante a ponderar para não deturparmos o espírito do Budô, que considero de atributos mais nobres.

No cenário de competições de Karatê hoje em dia vejo que há grupos que mantêm a essência e outros que já a perderam completamente, o que é uma pena! Ao meu ver, isso traz muita confusão para o leigo, que vê o nome "Karate" e acha que tudo é a mesma coisa. Em algumas competições ainda existem lutas, mas em outras há apenas um "jogo".

(S.L)6. Conte um pouco sobre o estágio de treinamento na Academia Shotokan, como eram os treinos e como era o Sensei Inoki ?
(J.R.)Fui morar no Rio em 2007, e quando lá cheguei, já sabia que iria treinar com o Sensei Inoki. Pois fui orientado pelo meu professor em Salvador, Sensei Enobaldo Ataíde. Procurei então um apartamento pra alugar que ficasse entre o trabalho e a academia.

No mês que me matriculei na Academia Shotokan o Sensei Inoki estava em San Diego, nos EUA, num treinamento com seu mestre, o Sensei Nishiyama.

Me lembro que estava numa aula ministrada pelo Sensei Zé Carlos e achei exageradas as colocações dele acerca do Sensei Inoki, afinal de contas eu já tinha tomado cursos com o Sensei Inoki, tinha sido examinado por ele para a faixa preta e também tinha sido aluno de grandes professores como Djalma Caribé e Enobaldo Ataíde, mas o Sensei José Carlos estava coberto de razão, o Sensei Inoki era incrível!

Treinei na Shotokan durante sete anos. Nesse tempo, chegava a treinar seis vezes por semana, de duas a três horas por dia, sempre com o Sensei Inoki. Posso dizer com convicção, para conhecer a fundo o grande mestre que ele era, era necessário ter convivido com ele por um período significativo de tempo.

Depois de apenas dez meses treinando com ele voltei à Bahia e me lembro do Sensei Enobaldo admirado, destacando minha evolução em um determinado aspecto técnico. Era um professor brilhante!

O Sensei Inoki era um verdadeiro mestre! Sempre demonstrava com muita maestria tudo o que falava, mas com muita humildade e respeito pelos seus alunos.

É dispensável falar sobre sua genialidade técnica. Quero então destacar sua humildade relatando o seguinte:
No dia do seu velório eu estava presente e fui apresentado à sua esposa, D. Rosa. Falaram para ela que eu tinha viajado da Bahia ao Rio pra estar presente ao velório. Um amigo meu, mais próximo de D. Rosa, me relatou que ela ficou admirada, sem entender o motivo de eu ter viajado de tão longe apenas para o velório. Ela achava que seu marido era um professor de Karate comum, desconhecia o fato de ele ser geniela, um grande mestre, daí o espanto.

(S.L)7. Como surgiu a idéia de chamar o Sensei José Carlos para dar um curso aí em Jequié ?
(J.R.)O Sensei Zé Carlos sempre me ensinou muito nos anos que morei no Rio. Um professor na Bahia me ensinou "quando um dicípulo se torna cem por cento discípulo, aí surge o mestre". O Sensei Zé Carlos foi discípulo do Sensei Inoki por 43 anos, resistiu a tudo e hoje eu o considero o herdeiro do Karatê do Sensei Inoki (embora ele, herdando também a humildade do mestre, não goste que fale isso). Esse foi o motivo de o convidá-lo!

(S.L)8. Quantos dias foram e Como foi o curso com Sensei José Carlos ?

(J.R.)Ele veio em 2015 e ministrou um curso em Jequié e outro em Salvador, atingindo um público de karatecas de dez cidades da Bahia. Nesse ano de 2017 ele esteve presente em Brumado e Jequié, cidades que dou aula atualmente. Em Jequié estiveram presentes karatecas de algumas cidades baianas e o curso durou um dia inteiro. Todos sairam impressionados com a didática e capacidade técnica do Sensei Zé Carlos.

(S.L)9. Atualmente, como é a sua rotina de vida e treinos ?

Minha rotina de treinos sempre foi dividida com minha vida profissional, que consomia bastante do meu tempo. Apesar de tudo, sempre consegui manter a regularidade.

Atualmente divido meu tempo no Dojô entre treinar e dar aulas em duas cidades da Bahia.

Em 2015 entendi que havia chegado o momento de eu assumir responsabilidades de propagar os ensinamentos dos grandes mestres com os quais tive oportunidade de treinar.

Em Jequié tenho uma academia somente de Karate.

Em Brumado dou aula em duas importantes escolas da cidade. Além disso, tento sempre ir a Salvador treinar com meu professor, o Sensei Enobaldo.

(S.L)10. Fale um pouco sobre seus projetos com Karatê , quais os próximos planos, objetivos e qual a sua expectativa para o Karate em 2018 ?

(J.R.)Sigo o meu caminho de treinos diários, tentando aprender Karatê. Aliado a isso, tenho tentado formatar uma metodologia na qual eu consiga transmitir o que aprendi até agora.

Tenho feito algumas reflexões pra descobrir como o Karatê me lapidou como pessoa e procuro inserir no treino técnico aspectos que contribuam na formação de um bom caráter.

Desde 2015 venho trazendo a Jequié e Brumado grandes mestres, duas vezes por ano. Quero que meu Dojô sirva de fonte para aqueles que querem com sinceridade buscar o verdadeiro Karatê-do.

(S.L)1. Qual é o teu sonho ?

(J.R.)Hoje em dia sigo amparado e desejo contribuir com uma grande família de Karatecas que começou a se formar há 34 anos pelo Sensei Enobaldo Ataíde.

Meu sonho é ter, nas cidades que dou aula, uma extensão dessa grande família. Sonho em ver meninos se tornarem homens de caráter forte, forjados pelo Budô. Desejo que o Karatê sirva de ferramenta de apoio das famílias na educação dos seus filhos.

(S.L)Oss, José Renato, em meu nome e no nome do Sensei José Carlos mais uma vez eu agradeço e desejo que tudo que você falou se concretize o mais rápido possível.

(J.R.) Eu é quem agradeço por tudo, pela entrevista e pela presença do Sensei José Carlos, grande estudioso e herdeiro do Katatê do Sensei Inoki, oss

Comentários


  1. Muito legal a entrevista. Parabéns.
    Sensei José Renato é a nossa referência aqui na região quando se trata de karatê Do tradicional. Foi ele, graças a sua credibilidade, quem nos proporcionou acesso a grandes mestres, como os senseis Zé Carlos, Enobaldo e Temístocles. E sei que outros mais virão. Ele vem nos ensinando o verdadeiro karatê-do, com sua técnica e humildade. Esse trabalho certamente elevará o nível do karatê da região, e teremos o trabalho do sensei Renato como um divisor de águas.
    OSS

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Bassai dai muito além de Okinawa

Kanku Dai pureza e modéstia olhando para o céu

Respiração - Um detalhe muito importante no seu treino de Karate – Parte 1